Reentrâncias. Isabelle Catucci. Terra e maçaneta de metal, 0,70 x 1,84 x 0,45. Foto da autora, 2021.
A porta indica abertura e transição entre espaços contidos. A maçaneta de metal e a superfície de terra contrastam em ritmo, cor e tensão, entre o compacto e o quebradiço, o estável e o móvel.
A porta ruída, na incompletude da forma, interpela-nos para o sentido da morte e do impedimento. No entanto, a fragmentação do volume sugere também a possibilidade de retomar o destino. A relação física, no tamanho da porta de terra, da maçaneta e da escala humana com o objeto, é componente importante para completar a percepção desta passagem.
Restam-nos as perguntas imprecisas, ao olhar para a matéria e para os significados construídos culturalmente para o sentido de terra, cuja amplitude não ignora a razão máxima da existência.
Displicentemente disposta horizontalmente no piso cinza de cimento, esta passagem é apenas intuída. A porta, divida em três blocos, mantém a forma geral, no centro, a interferência do espaço de movimento, independente do ponto de vista do observador.
O único indício objetual, a maçaneta, denota considerações que oscilam entre a leitura do material, no sentido ordinário e alterado, em cosmovisões ocidentais, cuja fechadura esconde segredos e interdições. Porta com passagem para onde? É possível passar, depois de fragmentada? Como passar? A terra aqui, em seu volume controlado e codificado, não deixa de informar questões sobre o espaço habitado, a propriedade, o controle. Mas além do peso visual e matérico, a espessura do trabalho solicita atenção, não é possível ignorar o volume que sobressai ao nível do chão em reentrâncias.