entre-terras
Repetição e variação. Um trilho de terra pilada entremeado por estruturas de cerâmica.
Quando andamos na linha sugerida pela instalação, o ritmo de inclinação das placas de cerâmica promove o movimento visual de ondulação, auxiliado pelas linhas formadas pela separação nos intervalos entre as placas do chão.
A regularidade quase geométrica dos espaços permite assimilações com a arquitetura, com o modo de construção das cidades. Se quisermos, aqui o caminho em terra crua pode ser lido como um espaço protegido pelas peças cozidas, tal qual uma espinha de terra, com medula e vértebras.
Caminho, trajeto, estrada, avenida, rua, passeio, carreiro, trilho.
Espaço para ser percorrido entre um local e outro, destino intermitente, terra de transição. Trecho protegido pelas construções de terra processada, na elaboração de paredes e contenções, em arcos que abrigam e delimitam, identificam a passagem.
Feito comboio ou trem de carga, mandam-nos andar nos trilhos para endireitar o caminho e seguir em frente. Ao escutarmos a ordem, percebemos que existem frestas e vãos, descaminhos, espaços vazios.
A direção, o ritmo e o deslocamento são elementos de terra construídos como herança geracional, cujo motivo e modo de utilização parece contínuo e perene.
O movimento visual provocado pelo ponto de vista do observador interliga o caminho, permite a leitura em linha contínua cadenciada. O fascínio do progresso, da evolução em linha pautada, de um ponto após o outro, no sentido urbano e dimensional da vida, nos deslocamentos humanos entre as terras.
Sucessão e retomada. Viadutos e vãos.
Entre-terras. Isabelle Catucci. Cerâmica terracota e terra crua. 4,00x 0,60 x 0,45 m. Foto da autora. 2021.