Descrição:
Dois armários brancos de madeira, no interior, estão dispostos fósseis de alfazema em porcelana, suspensos, pendurados por fios em estacas de bambus.
Sobre os armários, uma placa de madeira comprida e retangular onde estão três trabalhos. No primeiro, a pequena placa de porcelana com as inscrições "mandar obedecer/ caos cataclisma/ terramoto/ crise", apoiada em um anovelado de fios de sisal, protegida pela cúpula de vidro de um suporte para bolos. Em uma junção estranha, os objetos e sentidos atraem pela fragilidade, delicadeza e ausência de peso visual. No trabalho do centro da mesa, estão posicionados os fragmentos de porcelana de um girassol fossilizado, onde vemos as dobras da planta e os espaços geométricos das sementes. Por último, somam-se em um pequeno amontoado, folhas de alecrim e alfazema fossilizadas em porcelana, tão próximas das cores dos ossos e das conchas.
Na base dos armários, está disposta uma placa em dimensões pequenas, de porcelana, com o desenho de toros, a figura matemática representativa de um espaço topológico homeomorfo.
No chão, seguem outros três trabalhos, uma boia sinalizadora náutica de cor branco cinzenta, encontrada na praia do rio de Seixal, usada como defesa de barco, de formato redondo, com dois orifícios em uma haste para amarração de cordas. A partir do molde em gesso desta boia, foram realizadas duas esferas abertas, emaranhadas, em porcelana, posicionadas próximas àquela boia sinalizadora.
Por último, outro objeto encontrado na praia, agora uma boia inflável metálica, contrastante e reluzente. No centro almofadado da boia está um seixo, uma pedra arredonda encontrada na mesma praia. Estes objetos estão apoiados sobre um papel vegetal branco, estendido verticalmente sobre a parede do chão quatro metros acima.
No papel vegetal, dependendo da iluminação, é possível identificar desenhos de mapas em linhas cinzas, brancas e vazadas. Há um círculo vazado sobre o papel na mesma altura da mesa com os armários. Acima, também na vertical, está a inscrição com letras vazadas "os pés contra o chão". O papel translúcido, solto como uma cortina pronta para voar, mantêm-se no lugar com o peso da boia e da pedra.
Neste trabalho, todo o desejo de percorrer a superfície terrestre como quem explora as riquezas de um mundo é esquecido, há um apagamento. As boias e os elementos orgânicos fossilizados indicam outra temporalidade. Para a leitura de cada uma das inscrições, é preciso demorar-se, esperar que a sombra e a luz permitam o contraste. Todo o grupo de objetos indica flutuação e fragilidade, qualquer esbarrão movimentaria o trabalho como um castelo de cartas.
As palavras em suas transparências, indicam um medo calculado, de um espaço de consciência, em sentidos sobrepostos entre a flutuação e a temporalidade suspensa.