Na roda de oleiro pedalo alguns quilômetros até erguer a parede de barro. Para chegar ao ateliê ou em casa, pedalo mais alguns metros . Anoto os caminhos, as cores, os cheiros. Brinco de reinventar a roda, a bolha do meu convívio, das idas e vindas.
Ao cozer o barro, a terracota desmonta as linhas de conexão, tão forte meu desejo pela mudança de cor ao aumentar a temperatura. Os desenhos agora engolidos pelas dobras moles do corpo de cerâmica, antes das dobras causadas pelo fogo, apontavam os caminhos da vila, do passeio ribeirinho. Reposicionados, os mapas circulares foram apoiados nas peças de madeira da antiga fábrica de rolhas onde agora é o Armazém 56, espaço da residência artística.
Pequenos trajetos refeitos. Cerâmica terracota 1200ºC, vidrado transparente e óxido de manganês; madeiras encontradas no terreno baldio do ateliê, resquícios de objetos da fábrica de rolhas Mundet. Foto da autora. 2020.
Os caminhos fragmentados e isolados compõem histórias de um processo de manufatura em uma vontade de mapeamento das relações, das vias de acesso e dos pontos de referência na roda refeita da cerâmica.
As peças enfileiradas apoiam-se nos objetos encontrados no terreno da antiga fábrica. São de madeira cilíndrica, engenhosamente cortada para fazer a cortiça ganhar a forma equivalente ao espaço vazio da garrafa, receptáculo do elaborado vinho.
Somam-se os esforços instrumentais e técnicos, nos mapas cilíndricos dobrados e nas peças fabris, tão preocupadas em render informações e utilidades. Adensam a impossibilidade de continuar os mesmos caminhos, sem contudo, deixar de refazê-los, em vias de contenção e reinvenção enquanto percorrem nossos espaços de observação em círculos, cilindros e dobras.