isabelle catucci
ARTE
Sugestões contábeis
Cerâmica, rodas, 34 bobinas de papel
1,5 x 2,30 x 1,20 m
2016
Exposição Cerâmica Contemporânea
Curadoria Marília Diaz
Museu Alfredo Andersen. Curitiba- PR
A instalação é composta por 38 pequenas bobinas de papel, específicas para máquinas de calcular. Atualmente, as máquinas de mesa são pouco utilizadas, sendo substituídas pelos computadores. Ainda assim, estas bobinas trazem a memória recente das inúmeras contas realizadas por tais máquinas, de seu aspecto arquivístico, as bobinas eram também a comprovação material do cálculo realizado pela máquina, demonstravam a origem do registro.
A máquina transposta aqui para a cerâmica, foi desenvolvida a partir do molde de uma Olivetti encontrada na rua, jogada no lixo, em uma área da cidade com muitos prédios executivos. A elegância de seu design concorria com sua ineficiência e pó. Deste encontro nasce esta instalação.
Nas bobinas brancas sem impressão a repetição das possibilidades não numeradas, mas que convidam o espectador a imaginar, quantas contas poderiam aquelas bobinas presenciar? Já a máquina, atesta sua presença com um tom lúdico, suas cores e rusticidade de tratamento não são mais equivalentes ao modelo original, agora ganham rodas, que paradoxalmente, dão a possibilidade de movimento, ao mesmo tempo em que a cerâmica reforça a imobilidade de suas teclas. O pó preto restante no chão conduz para a abstração do tempo, da materialidade, do que se construiu e agora resta.
Em tempos de crise econômica, os cálculos trilionários do governo sobre nossas dívidas, não nos dá acesso à comprovação destas contas, agora os bancos apenas nos atendem virtualmente, e o capitalismo, quando registra a matemática de débitos e créditos, o faz com tinta destinada a desaparecer.
Esta instalação refere-se também à reflexão sobre a maquinaria simbólica de Guattari, dos sistemas de significação que ultrapassam o limite de troca cultural entre pessoas, entre grupos de conhecidos, visto que estamos vivenciando trocas “virtuais” e massivas, conduzidas por sistemas de transmissão e troca que não dependem exclusivamente da manipulação de um grupo. Nosso acesso à informação e cultura se dá então a partir de inferências caóticas, que ora conduzem a certezas hegemônicas com tecnologias dominantes, ora produzem o dissenso e a polifonia, possibilitando a profusão de significados independentes da mensagem original.